domingo, 23 de setembro de 2012

Memórias de Hogwarts


Depois de levar mais de um ano para não se perder no caminho para a torre de astronomia, o garoto Setterwind enfim acertara o lugar sem percalço algum. Especialmente naquela manhã ele acordara bastante cedo; vestiu-se silenciosamente e a passos leves, deslizou para o corredor como se fosse apenas mais um fantasma pelos corredores do castelo. Seguiu pensando em como seria aquele novo ano letivo, pensou no que os seus então doze anos de vida significavam agora que enfim estava no lugar certo.
Não gostava muito de se entregar a certos devaneios, pois, de alguma forma entendia aquilo como uma preocupação adulta demais para ele. Mas é que enfim aceitara a maturidade que sem precedente algum deu lugar a um jovem de poses diferentes, estranhas até. Gostava de sentir a magia do castelo enquanto ia aos destinos de todos os dias. Ia meneando a mão pelas paredes rugosas e pensava na magia de tantos séculos que se encerrava ali, entre cada rachadura e seixos compactados. Estranhou não encontrar Filch, nem Madame Nora ou mesmo algum inspetor àquela hora e então julgou que deveria ter quebrado o recorde de todos os alunos na escola estando de pé antes de todos.
O sol ainda não se levantara sobre os campos de urze no horizonte, pairava no ar leve neblina que se adensava abaixo da torre, tornando-a um anexo, um lugar a parte de Hogwarts. Ao se aproximar do corredor em que as janelas se emparelhavam, ouviu certo murmurar, percebeu uma inquietação que parecia vir de um grupo de pessoas que estava além daquela parede. Avançou lentamente e quando colocou a cabeça para olhar sorrateiramente, sobressaltou-se.
Minerva McGonagall olhava com ar sereno pela janela, como se esperasse algo acontecer. Mais próximo dele, Dumbledore ria pensando em coisas distantes e de repente olhou-o como sempre fazia, por baixo de seus oclinhos de meia-lua.
- Junte-se a nós, caro Saymon Setterwind! – convidou ele.
No espaço entre os dois professores, um grupo de alunos também olhava atentamente para o horizonte, com a mesma expressão de espera. Sobressaltaram-se com o convite do professor, e então se viraram para ver quem chegava para também celebrar a chegada do sol.
Saymon Setterwind olhou todos com ar débil, mas feliz por vê-los ali. Janaína Angelis, com os longos e negros cabelos soltos e Fernanda Adler, na sua sempre oportuna morenice de olhos castanho escuros, acenaram com um sorriso para que ele se juntasse ao lado delas. Dando mais uma olhada, ele pôde identificar todos os que ali estavam. Viu Jaala Garrett sorrir inocentemente por entre os cachos que emolduravam seu rosto e brilhavam sob a luz pálida da manhã; viu Denise Woods, que ao lado da amiga tentava se concentrar em não olhá-lo com expressão um tanto mística. Vyktor Sanders, o esquisito garoto grifinório, também estava lá, alternando sua atenção entre cutucões em Patrícia Winfield, a garota absurdamente engraçada que puxava o cabelo do sempre sorridente Alexandre Wisely. Tamires Van Feu também estava lá, sempre serena e de mãos enluvadas, na tentativa vã de encarcerar o Toque de Cassandra abaixo do couro curtido. Para sempre aqueles olhos acompanhariam Saymon, pois afinal de contas ela sempre soube de tudo. Até os odiosos Jheferson Conl e Nivaldo Wislow estavam lá, mas naquele momento nada parecia importar para eles, nem mesmo a sede de poder. A maldade que ele sabia que habitava naqueles então jovens corações, não era párea nem para aquele momento. Paula Madden vagueava entre olhar para os jardins lá em baixo e insistentemente tentar tirar lascas da madeira do batente a sua frente, enquanto sorria de forma terna para Saymon e acenava a varinha para os fragmentos que rodopiavam e levitavam alguns centímetros acima de sua mão. Letícia Mitchell esfregava as mãos e colocava-as levemente sobre as bochechas, como sempre fazia nos momentos após acordar.
- É agora, professor. – lembrou McGonagall.
Naquele momento o ar assumiu um alaranjado intenso, inundando a cúpula da torre como se esta estivesse em brasa. Lentamente as cores se tornavam mais amareladas e a luz solar preenchia o castelo mansa e silenciosamente, deitando-se sobre tudo, desde os limites da floresta proibida até as estufas, passando por cada fresta, corredor e passagem, secreta ou não. Todos foram inundados de profunda ternura e seus olhos se encheram de lágrimas.
Nunca existirá sentimento semelhante ao de se sentir em casa. Era isso o que Hogwarts era para cada um ali: o seu lar, o porto seguro de todos. Saymon segurou com força a mão de Janaína que direcionou a ele um olhar que traduziu uma amizade profunda. O garoto de cílios espessos apertou os olhos e abriu-os lentamente para então perceber que estava agora no salão principal, mergulhado em mortal escuridão, nove anos depois daquela memória.

Uma antiga espada cintilou no canto de sua visão e ele avançou para apanhá-la. Jheferson também fez o mesmo e agora ambos empunhavam suas armas, já que na luta foram desprovidos de suas varinhas. Denise assistia a tudo da escadaria, como se estivesse fincada na pedra. Pelas janelas Saymon podia ouvir o lamento de Jaiza Wolf, que chorava abraçada ao corpo de Harry Potter.
Tom Riddle estava a alguns metros, inerte. Eles se viraram para ver quem se aproximava correndo em meio ao salão e puderam perceber a silhueta de Maiza Wolf desenhar-se sob a luz dos feitiços que ricocheteavam pelos corredores e estilhaçavam as paredes. Passou furtivamente por ambos, queria parar, deferir um “Sectumsempra” contra o pérfido Conl e dizer a Setterwind e a Woods para que ambos corressem para longe, pois aquela era uma guerra perdida. Mas na verdade ela precisava correr rapidamente para amparar sua irmã. Olhou Saymon nos olhos e ele percebeu que aquilo era um adeus.
Ambos apertaram com força a base das espadas que empunhavam e avançaram com fúria e ódio.
Setterwind então finalmente entendeu que nenhum dos dois sairia vivo dali.

Fragmento de algum ponto em meio a batalha – por Saymon Freire e Fernanda Lemos


Ao som de "A Window To The Past", John Williams.


2 pessoas se inspiraram:

mialle disse...

Ficou absurdamente lindo. Nem sei o que dizer. Woaini.

T(o)d(a)s as palavras (n)ovamente ditas disse...

meu Deus, magnifico!