quarta-feira, 4 de julho de 2012

Dex e Em, Em e Dex

Prometi para mim mesmo que não assistiria ao filme deste livro enquanto não o lesse, e assim o fiz. De certa forma eu agradeci por estar desligado do mundo virtual, pois ele já teria me proporcionado spoillers demais, ou mesmo desmotivações. Li sem saber onde pisava; em que território adentrava; uma experiência totalmente nova. Ontem, pela manhã, vi o trailer pela primeira vez e fiquei impressionado com o quanto tudo está absurdamente fiel ao livro. Só faltavam algumas poucas páginas para que eu concluísse a leitura e então o fiz.

Saymon, 03/07/2012, 21h28min – numa noite abafada, com o coração quebrado.

Quando assinei a última página do livro com lápis como sempre faço para documentar a data e a hora em que terminei de ler o livro, eu me sentei na cama, meio atônito, com a garganta apertada e simplesmente não sabia no que pensar direito.
Talvez optasse por analisar, como disse Tony Parsons, “o assombroso hiato entre o que éramos e o que somos”.
Pensei por horas em diversas possibilidades, me vi nostálgico, me vi cheio de planos e ao mesmo tempo parado no espaço, sem reação.
Por doze dias tive a companhia constante de Dexter Mayhew e Emma Morley. Observei suas vidas, suas idas e voltas, me identifiquei de forma assustadora com a Em e tive muita vontade de socar a cara do Dexter, que mesmo sendo “bonitão”, conseguiu me tirar do sério por muitas páginas. Prometi que não devoraria esse livro, desde o começo quis degustá-lo de forma que pudesse entendê-lo em todas as suas formas, metáforas, observações inteligentes e um sentimento tão pungente que já fazia algum tempo eu não sentia tão próximo de mim.
O que primeiramente me fascinou foi o fato de que este livro foi narrado com um discernimento tão preciso e verdadeiro, que chega a ser constrangedor. Minha juventude não foi nos anos 70/80, embora às vezes eu me julgue mais antigo que isso. Nunca tive um romance que me turvasse os sentidos e parecesse ser perene, ainda não me formei na faculdade e por vezes me sinto absurdamente obsoleto para muitas coisas que eu já deveria ter feito, mas erroneamente deixei que o fulgor se apagasse, mesmo que meus anos sejam ainda tão poucos e ainda cheirem a coisa razoavelmente nova.
Nostalgia, motivação, mudança, rupturas, nada de anedotas, culpa, baixa autoestima, egocentrismo, não sei explicar direito. Senti tudo de uma forma compacta e muito íntima, mas ainda assim crendo que todos os que leram não foram privados destas sensações e sentimentos. É difícil encontrar um romance que trate o passado recente com tanto conhecimento de causa. É ainda mais raro encontrar algum em que os protagonistas sejam construídos com tanta solidez, com uma fidelidade tão dolorosa à vida real.
Eu sinceramente não gosto de ler e nem de fazer resenhas sobre livros, hoje em dia há tantos blogs e fóruns sobre isso e eu não leio nenhum deles, não tenho paciência. Não sei se porque já fiz tantas por obrigação que acabei adquirindo uma relação de amor e ódio com as mesmas. Mas me dispus porque achei que seria uma ingratidão com todos os sentimentos que me vieram enquanto eu lia e quando enfim, terminei a leitura. Tanto é que até consegui ser breve.
E por favor peço que não me levem a mal, que não me tomem por uma pessoa com sérios sintomas de carência crônica e/ou solidão em potencial, mas acontece que Dexter e Emma realmente mexeram comigo de um jeito que não sei explicar direito. Esta obra é uma análise minuciosa e habilmente construída sobre o que fomos e o que poderemos nos tornar, mas o que realmente me influenciou a uma notória ruptura foi o fato de este é um escrito inteligente, engraçado, sagaz e, por vezes, insuportavelmente triste.
E repito aqui, balbuciando pra não perder a magia do momento:

Você é linda, sua velha rabugenta, e se eu pudesse
te dar só um presente
para o resto da sua vida seria este.
Confiança.
Seria o presente da Confiança.
Ou isso ou uma vela perfumada.

Sempre Dex e Em,  Em e Dex.

Ao som de “St Swithin’s Day”, Billy Brag (que tocou apenas na minha cabeça, com notas que desconheço, meio que fantasiosamente embalada por Ólafur Arnalds).